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Ar Fresco

sexta-feira, março 24, 2006

Paradoxo... (I)



"DESEMPREGO NO CANUDO
Licenciados sem trabalho aumentaram quinze por cento, contra corrente"

Capa do Metro, hoje, 24/3/2006

Numa altura em que o Estado pondera aumentar a escolaridade mínima para os doze anos lectivos (até ao 12.º ano) e quando se fala, cada vez mais, nas necessidades de formação e de fortes políticas educativas, esta notícia não pode deixar de causar preplexidade. Se a solução milagrosa, por importar da Finlândia, é a aposta clara no conhecimento, na formação e na educação, como se explicam esta e outras notícias semelhantes?

Posto isto, parece haver duas causas possíveis: a) ou o problema está nos licenciados (muitos ou de má qualidade?); b) ou nos empresários (aposta em licenciados sai caro?).

Considerando a hipótese a) chega-se facilmente à conclusão que o nosso ensino superior não é dos melhores (veja-se os rankings internacionais, incluindo os europeus). Só um pequeno exemplo: até há bem pouco tempo não havia nota mínima de ingresso nas faculdades. Ou seja não havia triagem à entrada. Para agravar, as universidades privadas para sobreviverem começaram por aceitar os "recusados" do ensino público. Depois, os cursos existentes respondem às necessidades de mercado? Isto é, os currículos são adequados? Temos bons professores? Existem cursos em demasia, alguns com denominações enganatórias? Por fim, temos realmente demasiados licenciados para o nosso mercado de trabalho, e o que nos faz realmente falta é mão-de-obra formada em cursos tecnológicos?

Considerando a hipótese b) perguntamo-nos se compensará aos empresários investir em licenciados? São realmente bons e mais aptos para as funções a exercer? Compensa pagar mais, quando é o caso, por "técnicos superiores" quando muitos deles chegam "verdes" ao mercado de trabalho? Será que muitos licenciados são assim tão arrogantes que se recusam a começar por baixo e subir paulatinamente até cargos de direcção? Serão tão produtivos como os provenientes dos cursos tecnológicos? Será que o nosso mercado laboral necessita de tantos licenciados? Ou, por outro lado, os empresários são pouco optimistas e com visão a curto prazo? Ou serão pouco inovadores, logo conservadores, e reféns das leis laborais?

Deixo estas questões iniciais para reflexão.

(continua)

sexta-feira, março 17, 2006

Criadores de ilusões...

Imagem retirada do site www.scrivereperleimprese.it

O montador tipográfico, no universo das profissões do livro, é um criador de ilusões, tal como o boy script (continuísta, termo brasileiro) e o montador / editor no cinema. No cinema são quase imperceptíveis os cortes e montagens dos planos e, por vezes, a qualidade de um filme e a sua sequência de imagens está dependente de um bom continuísta.

Na área de edição, e enquanto os fotolitos forem "vivos", cabe ao montador tipográfico esse trabalho de artista de montagem dos vários planos; e dentro de um mesmo plano, as dezenas de cortes e recortes, de que ainda se vêem resquícios nos ozalides, são invisíveis perante os leitores - quando trabalho é bem feito. Por vezes, um olhar mais atento reconhece uma colagem, um corte ou apenas um mero defeito do fotolito, sinal de que ouve trabalho aturado de montagem que deixou apenas um leve rasto.

Certamente que em muitas profissões há artesãos que vão mascarando os erros e os defeitos, aprimorando as obras executadas, porém este post é dedicado a todos os montadores que artisticamente fazem com que os nossos livros continuem a sair graficamente impecáveis.

sexta-feira, março 10, 2006

Manuais escolares de português...

Vasco Graça Moura volta ao ataque aos linguistas (no que se refere ao ensino do Português), no DN. Alguns excertos para abrir o apetite:

O pecado original da Linguística foi o de se afirmar contra a Literatura. Ainda hoje, no ensino do português, há quem receie o cânone literário, por considerá-lo perigoso e manipulador. Também há quem entenda que a disciplina de Português deveria ser distinta da de Literatura. E há ainda quem resvale já para a aceitação de uma norma correspondente à transmitida pelos jornais, pela rádio e pela televisão, embora a comunicação social seja o maior viveiro de erros e imbecilidades de que o país dispõe nesta matéria

(...)

Tem parecido preferível valorizar coisas amorfas de todo para a aprendizagem da língua, do género "cada concorrente deverá apresentar-se mascarado de palerma" ou "o PH é o logaritmo do inverso da concentração hidrogeniónica expressa em hidrogeniões gramas por litro".

(...)

a avaliação e credenciação da qualidade dos manuais destinados ao ensino da nossa língua sejam feitas por professores de Português com formação em Literatura.

Estou totalmente de acordo.

quarta-feira, março 08, 2006

Paridades...

O BE voltou à carga e, segundo o DN, desafiou o Governo para as paridades na política. Certamente embalados pela efeméride do dia, Dia da Mulher (para os mais distraídos), procuram forçar o Governo a introduzir a paridade, por lei, no Governo, nos institutos públicos e na Assembleia.

Ora isto de arranjar paridades por Decreto, normalmente dá mau resultado. Acaba-se, muitas vezes, por criar cargos para pessoas incompetentes. Mas já agora, e a paridade entre negros, brancos e amarelos? E entre católicos, muçulmanos, agnósticos e ateus? E entre hetero, homo e bissexuais? Não brinquemos...

Bem sei que vivemos numa sociedade predominantemente machista, onde predomina o apoio "fraternal" entre os membros do sexo masculino. Sei que muitas mulheres, por vezes, são afastadas de promoções devido ao facto de não jogarem golfe, não acharem piada a reuniões ao fim-de-semana à noite em bares de strip, não partilharem de outros gostos tipicamente masculinos e onde, normalmente, se tomam as decisões importantes.

Por outro lado, importa saber se a política não é uma área que seja desinteressante para as mulheres, se preferem optar por outras carreiras no privado melhor remuneradas e reconhecidas. Importa saber se a fraca representatividade das mulheres é apenas o reflexo de exclusão machista, ou se ainda não apareceram mulheres com "força" suficiente dentro dos partidos para disputarem a liderança.

Ainda neste ponto, podemos observar que, no que respeita a câmaras municipais, encontramos mulheres no poder, com liderança - ainda recentemente Maria da Luz Rosinha era presidente da AML. E certamente por esse Portugal inteiro conhecemos mulheres em cargos de relevo. Julgo que a política é um caso distinto, onde as mulheres se sentem mais afastadas por natureza, talvez pela corrupção, pelo amiguismo e pelo "tachismo" que aí abunda. Talvez porque vivemos hoje num contexto político, onde os líderes emergem não pelo carisma, pela experiência ou pelo valor intrínseco e profissional, mas porque passou com distinção por todas as etapas do "jotismo"...

Por fim, veja-se que o facto de os homens estarem em maioria na política nem sempre tem trazido benefícios... vejam-se grande parte da qualidade dos eleitos, sendo o sinal que até os (melhores) homens a política está a afastar.

Nota - veja-se que um cargo que, apesar de muito controlado pelos partidos, como a presidência da república, não tem apresentado muitas candidatas "independentes" a eleições.

sexta-feira, março 03, 2006

Remodelações...

Confesso que quando ouvi o nome de Freitas do Amaral para Ministro dos Negócios Estrangeiros (MNE), fiquei surpreso, mas seguro. Apesar de ser um "centrista", fundador do CDS e de ter tido declarações recentes sobre a política norte-americana nada próprias de um futuro MNE, dei-lhe o benefício da dúvida.

Os primeiros tempos foram pacíficos, houve até a "reconciliação" com os EUA, num encontro com Condoleeza Rice. Contudo, os bons profissionais, sejam políticos ou não, avaliam-se nos momentos decisivos, de tensão, de tomada de decisões difíceis. Esse momento chegou na altura das malditas caricaturas.

Freitas demonstrou que não era capaz de separar o pessoal do nacional, não foi capaz de ter em conta que as suas afirmações representariam Portugal, provavelmente reagindo a quente. As suas declarações envergonharam Portugal, envergonharam o Governo (ou, pelo menos, deveriam ter envergonhado) e, acima de tudo, Portugal. As sucessivas explicações de Freitas acentuaram, cada vez mais, a gravidade das declarações e comunicados que havia proferido / enviado.

Ontem, na Assembleia da República, atingiram o auge:

O essencial estava muito para além e muito mais fundo que o problema da violência. Que era apenas uma reacção, condenável, mas compreensível, face às ofensas enormes que tinham sido feitas a toda a comunidade islâmica pelo jornal da extrema-direita dinamarquesa...

Freitas do Amaral, AR, 3/3/2006

A, agora, única reacção "compreensível" que poderá vir do Governo será remodelar este ministro urgentemente, antes que seja tarde!